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quezas, deixando Portugal empobrecido. Nesta parte o pensamento dos fanaticos revela-se com uma innocencia quasi pueril. O remedio aos males que receiavam seríam a tolerancia; sería repor as cousas no estado em que se tinham conservado durante quatro seculos. Essa solução simples, razoavel, christan, era a que não lhes occorria. Queriam perseguição e ouro. Como, porém, as provisões da bulla de 7 de abril eram ás vezes illogicas, em relação aos principios geraes que nella se estabeleciam, a defesa, poderosa, irresistivel na doutrina geral, era não raro fraca nas particularidades. A' objecção de que, dando-se como meio de obter o perdão a confissão auricular, viriam, para se porem a salvo, os que finda eram judeus occultos, a abusar de um sacramento em que não criam, tinham respondido em Roma que não era de presumir procedessem assim os que fossem sinceramente sectarios da lei de Moysés. A réplica dos theologos portugueses era nesta parte decisiva. Que tinham os pseudo-christãos feito durante mais de trinta annos, senão demonstrar a vaidade de semelhante supposição, abusando de todos os sacramentos? Os que quisessem ficar no reino, e seríam muitos, porque o governo não lhes havia de tolerar que