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Balthasar de Faria avisava elrei de que havie chegado a Ragusa uma nau carregada de fugitivos[1]. A Syria e a Turquia da Europa recebiam diariamente no seu seio familias portuguesas, que, á sombra da meia tolerancia do islamismo, iam buscar essa mesma pouca liberdade religiosa que não achavam na patria[2]. Dez annos depois, só na cidade de Ancona navia perto de tres mil judeus portugueses ou oriundos de Portugal, parte dos quaes eram creanças já nascidas em Italia, e cujos paes, por consequencia, tinham abandonado o paiz nesta epocha de mais feroz perseguição, ou pouco anteriormente. Em Ferrara e em Veneza era tambem grande o numero delles[3]. Muitos deviam acolher-se a outros pontos, onde, como temos visto no de-

  1. C. de B. de Faria a elrei de 8 de maio de 1544, G. 2, M. 5, N.° 24.
  2. Veja-se o § da carta de um certo Fr. Antonio a elrei, escnpta poucos annos depois, e que se refere a este facto: G. 2, M. 9, N.° 44.
  3. C. de mestre Simão (jesuita) a D. João iii (1544) de Ancona, na G. 2, M. 5, N.° 31. Veja-se tambem a carta de Gaspar Barreiros publicada por Cunha (Hist. Ecclesiastica de Braga, P. 2, c. 81) documento suspeito, mas cuja narrativa é nesta parte assas plausível.