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masmorras do Sancto-Officio. A noticia destas prisões animava o povo a practicar actos analogos contra esses homens que lhe tinham ensinado a detestar. Assim, mais de uma vez aconteceu verem-se repentinamente presos pelos camponeses e conduzidos á cidade, sob pretexto de que pretendiam fugir, christãos-novos conhecidos pela sua fortuna ou pelas suas qualificações que se atreviam a saír de Lisboa e alongar pelas cercanias[1].

O quadro que extrahimos, assim do Memorial e das narrativas e documentos que o acompanham, como de outros que lhe são correlativos, é apenas um esboço desenhado com traços soltos. Omittimos numerosos factos, que talvez lhe avivariam as cores e lhe tornariam os contornos mais precisos, mas que seríam demasiado minuciosos. Baste dizer que, além de provarem a deliberação antecipada de exterminar a raça hebréa, levam tambem á evidencia que essas mesmas garantias, estabelecidas na bulla de 23 de maio de 1536 e nos outros diplomas pontifícios de execução permanente, a favor dos réus de judaismo eram diariamente postergadas e es-

  1. Ibid. fol. 309-311.