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ração que resplandeciam no novo eleito, elogios em que nos é licito duvidar um pouco da sinceridade do papa, mas que evidentemente deviam contribuir para adoçar a irritação causada pelo procedimento hostil do arcebispo sypontino[1].

Este seguia entretanto o caminho que provavelmente lhe indicavam as suas instrucções secretas. Elrei, que a principio recusara admittir a exposição dos aggravos dos seus subditos de raça hebréa, tinha-a acceitado por fim da mão do nuncio, e os inquisidores, a quem fora communicada, haviam respondido amplamente a ella[2]. Era, por um lado, a eterna repetição dos factos que o leitor sobradamente conhece; eram, por outro, as mesmas negativas ou as mesmas apologias, repetidas mais de uma vez pelos chefes da fé. Ultrapassando as limitações com que entrara no reino, o nuncio mostrava-se resolvido a ir mais longe, e, entretanto, dizia a algumas pes-

  1. Breve Quod semper de 16 de dezembro de 1545 na Symm., vol. 46 (Cod. Diplom. 3.°), p. 595.
  2. A informação ou exposição a favor dos christáos-novos acha-se na G. 2, M. 2, N.° 26, e a resposta dos inquisidores (a que poseram exteriormente a data errada de 1535) na mesma gaveta e maço N.° 31, no Arch. Nac.