Página:Herculano, Alexandre, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Tomo III.pdf/311

voradores de carne humana, mas tambem provava que a firmeza que até ahi se ostentara não era tão inteira e incontrastavel como a linguagem adoptada recentemente pela corte de Lisboa parecia indicá-lo. Balthasar de Faria, tantas vezes taxado de falta de perseverança, mostrou nesta conjunctura mais tacto que os acérrimos fautores da Inquisição. Dissimulou as instrucções que recebera e continuou a insistir na manutenção das bases que aceitara, escrevendo a elrei para o persuadir de quanto eram inconvenientes as novas propostas. Ajudava-o a manter na sua persistencia um passo imprudente que dera a curia romana. Segundo parece, os agentes dos hebreus portugueses tinham obtido um salvo-conducto geral para estes serem admittidos nos estados da igreja[1]. Descuberta a

  1. Cartas de B. de Faria a elrei na G. 2, M. 5, N.° 46 e N.° 64, que adiante havemos de citar. Não apparece a correspondencia de Faria desde maio até outubro de 1547. Entretanto, das cartas deste ultimo mez e de novembro do mesmo anno vé-se lue escrevera mais de uma vez a elrei nesse intermedio, e que remettera copia de um breve de salvoconducto affrontoso para Porugal, concedido aos christãos-novos. Descubrindo a existencia desse diploma occulto, fizera grande rumor em Roma. Um