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nha inclusa[1]. Abertos, não só os maços, mas lambem as cinco cartas sem direcção, achou-se que estas eram em cifra. As palavras homem de Viseu fizeram crer que a mysteriosa correspondencia fosse do cardeal da Silva. Podia ser subtil a suspeita: sensata não o era, visto que o antigo bispo de Viseu não deixara, por certo, em Portugal mulher legitima, á qual se entregasse uma carta sua. O que, porém, faz sobretudo duvidar se aquella correspondencia e a sua apprehensão foram ou não um invento, uma comedia politica, é que se mandaram lançar pregões, annunciando o premio de tres mil cruzados, somma então avultadissima, para quem lesse aquellas cifras. Appareceu um individuo que o alcançou, e elrei pôde, emfim, certificar-se do seu conteúdo. Restam-nos centenares de documentos dos quaes se vê quão frequente uso o governo português e os seus agentes fóra

  1. Ibid. No extracto desta carta contido nas Instrucções ou Memoria diplomatica a phrase é ambígua. O possessivo sua pôde referir-se tanto á mulher do homem de Viseu como á de Diogo Fernandes. Da copia, porém, dessa carta que se acha por integra na G. 2, M. 2, N.° 51, se vê claramente que se refere á mulher do homem de Viseu.