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fundamentos das supplicas dirigidas á sancta sé pela corte de Portugal por espaço de tantos annos, e provaram a necessidade de se adoptar uma politica mais accorde com os intuitos do principe e com os interesses do christianismo[1].

Entretanto Francisco Botelho chegava a Roma e obtinha em breve uma audiencia de Paulo iii para apresentar os documentos de que era portador. Não parece que estes produzissem grande abalo no animo do pontifice, o qual dormitava emquanto o seu secretario os lia[2]. Botelho fingiu não menor indifferença e despediu-se apenas acabou a leitura. Foi o que fez impressão no papa, que, porventura, esperava uma dessas scenas violentas a que estava costumado com os ministros de Portu-

  1. Minuta na G. 2, M. I, N.° 19.
  2. «as quaes lhe leu todas até ao cabo, e sua santidade tosquenejava ás vezes»: Carta de Francisco Botelho de 26 de dezembro de 1543 (aliás 1542) na G. 2, M. 1, n.° 49 e original na Collecç, do Sr. Moreira, Quad. 9 in medio. Posto que datada de 1543, é de 1542; por ser escripta a 26 de dezembro, e o anno do nascimento começar então em dia de Natal. De outro modo, esta carta contradiria a chronologia dos successos.