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HISTORIA DA POESIA


poesia do povo, os Trovadores tiraram os esboços lyricos a que o genio italiano deu as fórmas definitivas da poesia moderna.

A Canção narrativa teve a sua plena evolução épica litteraria nas Canções de Gesta francezas; escreve Léon Gautier: «A Hespanha não foi como a França arrastada por este movimento irresistivel que nos levou da Cantilena para a Epopêa. A Hespanha, á excepção do Poema do Cid, não transpoz este passo decisivo que nos fez transformar as nossas Cantilenas em Canções de Gesta; ella estacionou nas Cantilenas, que são conhecidas pelo nome de Romances[1] Por este desenvolvimento litterario dos rudimentos populares é que a influencia franceza determinou nova corrente de gosto nas Côrtes peninsulares.

Ficam até aqui explanados todos os elementos tradicionaes e sociaes de uma epoca organica da Poesia popular portugueza: do seculo VIII a XII; d’essa grande classe Mosarabe que se organisou no Povo livre dos Estados peninsulares, destacava-se Portugal como nação, apoiando-se na revivescencia do Lusismo. Embora exiguo em seu territorio, foi vasta a elaboração da Lingua oral e da Versificação com que se manifestou o Povo portuguez, entrando logo no começo da nacionalidade na cooperação litteraria e artistica da Edade media. Pelo exame das tradições poeticas, populares e oraes da Galliza, das Asturias, do alto Aragão e da Andalusia, reconstitue-se a extensão d’esse elemento lusitano desmembrado pelas conflagrações historicas e vicissitudes politicas, e ao mesmo tempo chega-se á comprehensão do separatismo instinctivo e secular de Portugal e da Hespanha iberica. As tradições populares authenticam o nosso individualismo ethnico. Conta-se que Alfredo

  1. Epopées françaises, t. 1, p. 100.