HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES
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era para nada, e trazerdel-o em vossa Côrte a seu pesar, que por preso o haviam todos, não querieis consentir que casasse com uma filha d'El-Rei meu Senhor, e mui honradamente casára, nem quizestes que casasse Irman com elle desejando-o ella, e tendo vós promettido á Infante sua Mãe que farieis n'isso o que pudesseis, fizestes o contrario, por onde visto está, que querieis que elle não casasse com ninguem por não haver filhos que herdassem o seu, e d'isto ha outra mui mais certa prova que estas, que é certo que lhe mandaveis dar cousa para não haver geração, e foi-lhe descoberto, depois lhe foi dito como mandaveis alguns que o matassem de noite indo elle fóra só, fingindo que o não conheciam, e foi avisado, e guardou-se, e depois foi avisado agora em Santarem, que com um cosinheiro trataveis para lhe dar peçonha, assim que claro está que dias ha que tinheis determinado de fazer o que fizestes e mais o matastes porque vos elle devia matar que por querer matar, que se elle tal quizera, não andára tão mal apparelhado para tal negocio nem viera só ver-vos e deixára-vos os mais dos seus em Palmella, nem os que com elle culpaes não estiveramos tão mal apercebidos, que eu n'esse mesmo mez não mandára com meus Irmãos os meus escudeiros e encavalgados, nem lhe déra os meus cavallos e armas de minha pessoa e áquella hora estava em casa de meu Pai que Deus haja, sem saber que o Duque era ido nem D. Alvaro de Athayde vos houvera de matar em Santarem nem D. Pedro de Athayde inda no