marido, que diziam que era o que trouxera comsigo ou mandára de França.»
Duarte Nunes viu a sepultura, e descreve-a. A caixa era de marmore branco, com varios ornatos esculpidos á roda, figurando arvoredo e montaria de porcos e cães. As lettras do epitaphio eram gothicas. Mas as dimensões da sepultura denunciavam o cadaver de um adulto, não de um moço de pouca idade. Vinte annos antes de Duarte Nunes escrever a chronica de D. Affonso III, querendo o prior de S. Domingos «despejar o cruzeiro (onde a sepultura estava) ou por não lêr aquellas lettras, porque constava jazer alli um filho do rei, que fundou aquella casa, ou por cuidar que seria algum menino», abriu-se a sepultura e achou-se um corpo incorrupto, sanissimo, diz o chronista, reconhecendo-se que era de homem grosso. Os ossos foram trasladados para outra sepultura, proxima á capella de Santo André.
«De maneira, escreve o chronista, que a fama de alli estar um menino filho de Mathilde, era falsa e vã, e era certo estar alli o infante D. Affonso, irmão inteiro d'el-rei D. Diniz, que morreu de grande idade com muitos filhos e netos.»
Como se vê, a lenda do menino que viera de França generalisou-se entre o povo portuguez, e atravessou os seculos sem perder uma parcella da sua popularidade. O proprio prior de S. Domingos, que devia ser homem ilustrado, teve duvidas, e só se desenganou depois de ter mandado abrir a sepultura.