— Não; é verdadeira.

— Dê cá, disseram ambos.

Falcão dobrou a nota vagarosamente, sem tirar-lhe os olhos de cima; depois, restituiu-a aos pequenos, e, voltando-se para o amigo, que esperava por elle, disse-lhe com a maior candura do mundo:

— Dinheiro, mesmo quando não é da gente, faz gosto vêr.

Era assim que elle amava o dinheiro, até á contemplação desinteressada. Que outro motivo podia leval-o a parar, diante das vitrinas dos cambistas, cinco, dez, quinze minutos, lambendo com os olhos os montes de libras e francos, tão arrumadinhos e amarellos? O mesmo sobresalto com que pegou na nota de cinco mil réis, era um rasgo subtil, era o terror da nota falsa. Nada aborrecia tanto, como os moedeiros falsos, não por serem criminosos, mas prejudiciaes, por desmoralisarem o dinheiro bom.

A linguagem do Falcão valia um estudo. Assim é que, um dia, em 1864, voltando do enterro de um amigo, referiu o explendor do prestito, exclamando com enthusiasmo:— «Pegavam no caixão tres mil contos!» E, como um dos ouvintes não o entendesse logo, concluiu do espanto, que duvidava d'elle, e discriminou a affirmação:— «Fulano quatro