que desciam, quitandeiras apregoando legumes, e um piano da vizinhança. José Maria sentou-se finalmente, depois de apanhar a bengala, e continuou nestes termos:

--Um passaro, um grande passaro. Para ver quanto é feliz a comparação, basta a aventura que me traz aqui, um caso de consciencia, uma paixão, uma mulher, uma viuva, D. Clemencia. Tem vinte e seis annos, uns olhos que não acabam mais, não digo no tamanho, mas na expressão, e duas pincelladas de buço, que lhe completam a physionomia. É filha de um professor jubilado. Os vestidos pretos ficam-lhe tão bem que eu ás vezes digo-lhe rindo que ella não enviuvou senão para andar de luto. Caçoadas! Conhecemo-nos ha um anno, em casa de um fazendeiro de Cantagallo. Saimos namorados um do outro. Já sei o que me vae perguntar: porque é que não nos casamos, sendo ambos livres...

--Sim, senhor.

--Mas, homem de Deus! é essa justamente a materia da minha aventura. Somos livres, gostamos um do outro, e não nos casamos: tal é a situação tenebrosa que venho expor a Vossa Reverendissima, e que a sua theologia ou o que quer que seja, explicará, se puder. Voltamos para a Côrte namorados.