Deolindo não quiz ouvir mais nada. A velha Ignacia, um tanto arrependida, ainda lhe deu avisos de prudencia, mas elle não os escutou e foi andando. Deixo de notar o que pensou em todo o caminho; não pensou nada. As idéas marinhavam-lhe no cerebro, como em hora de temporal, no meio de uma confusão de ventos e apitos. Entre ellas rutilou a faca de bordo, ensanguentada e vingadora. Tinha passado a Gambôa, o Sacco do Alferes, entrára na praia Formosa. Não sabia o numero da casa, mas era perto da pedreira, pintada de novo, e com auxilio da visinhança poderia achal-a. Não contou com o acaso que pegou de Genoveva e fel-a sentar á janella, cosendo, no momento em que Deolindo ia passando. Elle conheceu-a e parou; ella, vendo o vulto de um homem, levantou os olhos e deu com o marujo.

— Que é isso? exclamou espantada. Quando chegou? Entre, seu Deolindo.

E, levantando-se, abriu a rotula e fel-o entrar. Qualquer outro homem ficaria alvoroçado de esperanças, tão francas eram as maneiras da rapariga; podia ser que a velha se enganasse ou mentisse; podia ser mesmo que a cantiga do mascate estivesse acabada. Tudo isso lhe passou pela cabeça, sem a fórma precisa do raciocinio ou da reflexão, mas em tumulto e rapido..