Não sorria de escarneo. A expressão das palavras é que era uma mescla de candura e cynismo, de insolencia e simplicidade, que desisto de definir melhor. Creio até que insolencia e cynismo são mal applicados. Genoveva não se defendia de um erro ou de um perjurio; não se defendia de nada; faltava-lhe o padrão moral das acções. O que dizia, em resumo, é que era melhor não ter mudado, dava-se bem com a affeição do Deolindo, a prova é que quiz fugir com elle; mas, uma vez que o mascate venceu o marujo, a razão era do mascate, e cumpria declaral-o. Que vos parece? O pobre marujo citava o juramento de despedida, como uma obrigação eterna, diante da qual consentira em não fugir e embarcar: «Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte». Se embarcou, foi porque ella lhe jurou isso. Com essas palavras é que andou, viajou, esperou e tornou; foram ellas que lhe deram a força de viver. Juro por Deos que está no céu; a luz me falte na hora da morte...

— Pois, sim, Deolindo, era verdade. Quando jurei, era verdade. Tanto era verdade que eu queria fugir com você para o sertão. Só Deus sabe se era verdade! Mas vieram outras cousas... Veio este moço e eu comecei a gostar d'elle...