--E pensas que não? redargui.

Gonçalves sorriu; elle não acreditava no meu caiporismo. Verdade é que não tinha tempo de acreditar em nada; todo era pouco para ser alegre. Afinal, começára a converter-se á advocacia, já arrasoava autos, já minutava petições, já ia ás audiencias, tudo porque era preciso viver, dizia elle. E alegre sempre. Minha mulher achava-lhe muita graça, ria longamente dos ditos d'elle, e das anecdotas, que ás vezes eram picantes demais. Eu, a principio, reprehendia-o em particular, mas acostumei-me a ellas. E depois, quem é que não perdoa as facilidades de um amigo, e de um amigo jovial? Devo dizer que elle mesmo se foi refreando, e d'alli a algum tempo, comecei a achar-lhe muita seriedade. Estás namorado, disse-lhe um dia; e elle, empallidecendo, respondeu que sim, e accrescentou sorrindo, embora frouxamente, que era indispensavel casar tambem. Eu, á mesa, fallei do assumpto.

--Rufina, você sabe que o Gonçalves vai casar?

--É caçoada d'elle, interrompeu vivamente o Gonçalves.

Dei ao diabo a minha indiscrição, e não fallei mais n'isso; nem elle. Cinco mezes depois... A transição é