presença de um possivel desastre, que parecia justificar a moça. Elle perguntava-me, a cada passo se não era natural fazer o que fez, no delirio da indignação, se eu não faria a mesma cousa. Mas depois tornava a affirmar a aventura, e provava-me que era verdadeira, com o mesmo ardor com que na vespera tentara provar que era falsa; o que elle queria era acommodar a realidade ao sentimento da occasião.

—Mas, emfim, descobriram a Marocas?

—Estavamos comendo alguma cousa, em um hotel, eram perto de oito horas, quando recebemos noticia de um vestigio:—um cocheiro que levára na vespera uma senhora para o Jardim Botanico, onde ella entrou em uma hospedaria, e ficou. Nem acabámos o jantar; fomos no mesmo carro ao Jardim Botanico. O dono da hospedaria confirmou a versão; accrescentando que a pessoa se recolhera a um quarto, não comera nada desde que chegou na vespera; apenas pediu uma chicara de café; parecia profundamente abatida. Encaminhámo-nos para o quarto; o dono da hospedaria bateu á porta; ella respondeu com voz fraca, e abriu. O Andrade nem me deu tempo de preparar nada; empurrou-me, e cahiram nos braços um do outro. Marocas chorou muito e perdeu os sentidos.