eles sonhavam com a “ecotopia”: uma Califórnia futurista onde carros haviam desaparecido, a produção industrial era ecologicamente viável, as relações entre os sexos eram igualitárias e o cotidiano era vivido em grupos comunitários[1]. Para alguns hippies, esta visão só poderia se realizar pela rejeição do progresso científico como um falso Deus e pelo retorno à natureza. Outros, em contraste, acreditavam que o progresso tecnológico inevitavelmente tornaria seus princípios libertários em fatos sociais. Mais importante, influenciados pelas teorias de Marshall McLuhan, estes tecnófilos pensavam que a convergência da mídia, da computação e das telecomunicações criaria inevitavelmente a ágora eletrônica — um lugar virtual onde todos poderiam expressar sua opinião sem medo de censura[2]. Apesar de ser um professor de inglês de meia-idade, McLuhan predicava a mensagem radical de que a força do grande capital e do governo hipertrofiado seria logo derrubada pelos efeitos intrinsecamente reforçadores do indivíduo das novas tecnologias.

“Mídia eletrônica (...) abolir a dimensão espacial (...) Pela eletricidade, nós retomamos às relações cara-a-cara em todos os lugares, na mesma escala das menores aldeias. É uma relação profunda, e sem a delegação de funções ou poderes (...) O diálogo supera a palestra[3].”

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  1. No romance best-seller da metade dos anos 70, a metade norte da costa oeste separa-se do resto dos EUA, para formar uma utopia hippie. Ver CALLENBACH, Emest. Ecotopia. New York: Bantam, 1975. Esta idealização da vida comunitária californiana pode ser encontrada também em BRUNNESR, John. The Shockwave Rider. London: Methuen, 1975; e mesmo em trabalhos posteriores, como em ROBINSON, Kim Stanley. Pacific Edge. London: Grafton, 1990.
  2. Para uma análise das tentativas de criação da democracia direta através da mídia, ver BARBROOK, Richard. Media Freedom: the contradictions of communications in the age of modernity. London: Pluto, 1995.
  3. MCLUHAN, Marshall. Understanding Media. London: Routledge & Kegan Paul, p. 255-6, 1964. Ver também MCLUHAN, Marshall, FIORE, Quentin. The Medium is the Massage. London: Penguin, 1967; e STERN, Gerald Emanuel (org). McLuhan: Hot & Coll. London: Penguin, 1968