O Mito do “Livre Mercado”

Seguindo-se à vitória do partido de Gingrich nas eleições legislativas de 1994, esta versão direitista da Ideologia Californiana está agora em ascendência. Porém, os dogmas sagrados do liberalismo econômico são contraditos pela verdadeira história da hipermídia. Por exemplo, as tecnologias icônicas do computador e da Rede só puderam ser inventadas com a ajuda de subsídios massivos do estado e o envolvimento entusiástico de amadores. A iniciativa privada desempenhou um papel importante, mas apenas como parte de uma economia mista.

O primeiro computador - o Dispositivo Diferencial — foi projetado e construído por companhias privadas, mas seu desenvolvimento só se tomou possível graças a uma doação de £17470 do governo britânico, o que era uma pequena fortuna em 1834[1]. De Colossus a EDVAC, das simulações de voo à realidade virtual, o desenvolvimento da computação dependeu em momentos chave de esmolas para a pesquisa pública ou de contratos gordos com agências públicas. A corporação IBM só construiu o primeiro computador programável digital depois de receber um pedido para fazê-lo do Departamento de Defesa dos EUA, durante a Guerra da Coréia. Desde então, o desenvolvimento de gerações sucessivas de computadores foi direta ou indiretamente subsidiado pelo orçamento de defesa americano[2]. Assim como uma ajuda do estado, a evolução da computação também dependeu do envolvimento da

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  1. Ver SCHAFEFER, Simon. Babbage's Intelligence: calculating engines and the factory system. (http://cci-wmin.ac.ul/schafferschaffer01.html)
  2. Para um relato de como a falta de intervenção estatal significou a perda da oportunidade de construir o primeiro computador eletrônico do mundo para a Alemanha nazista, ver PALEREMAN, Jonathan; SWADE, Doron. The Dream Machine. London: BBC, p. 32-6, 1991. Em 1941 o comando alemão recusou-se a continuar o financiamento para Konrad Zuze, pioneiro no uso do código binário, programas arquivados e portões lógicos.