cerca de 200 seres humanos. Como político, ele defendeu o direito de fazendeiros e artesãos americanos determinarem seus próprios destinos sem se sujeitarem às restrições da Europa feudal. Como outros liberais do período, ele pensava que as liberdades políticas somente poderiam ser protegidas de governos autoritários pela posse universal da propriedade individual privada. Os direitos dos cidadãos eram derivados deste direito natural fundamental. No sentido de encorajar a autossuficiência, ele propôs que cada americano deveria receber ao menos 50 acres de terra para garantir sua independência econômica. Porém, enquanto idealizava os pequenos fazendeiros e homens de negócios da fronteira, Jefferson era na verdade um latifundiário da Virgínia vivendo do trabalho de seus escravos. Apesar de a “peculiar instituição” sulista incomodar sua consciência, ele ainda acreditava que os direitos naturais do homem incluíam o direito de possuir seres humanos como propriedade privada. Na democracia jeffersoniana, a liberdade dos brancos se assentava sobre a escravidão dos negros[1].

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  1. De acordo com Miller, Thomas Jefferson acreditava que os negros não podiam ser membros do contrato social lockeano que ligava os cidadãos da república americana. “Os direitos do homem (...) enquanto teórica e idealmente direitos de nascença de cada ser humano, eram aplicados na prática nos Estados Unidos apenas aos homens brancos: os escravos negros eram excluídos da consideração porque, mesmo admitidos como seres humanos, eram também propriedade, e onde os direitos do homem conflitavam com os direitos da propriedade, a propriedade tinha precedência”. Ver MILLER, John. The Wolf by the Ears: Thomas Jefferson and Slavery. New York: Free Press, p. 13, 1977. A oposição de Jefferson à escravidão era, na melhor das hipóteses, retórica. Em uma carta de 22 de abril de 1820, ele pouco ingenuamente sugeriu que a melhor maneira de encorajar a abolição da escravatura seria legalizar a propriedade privada de seres humanos em todos os estados da União e nos territórios da fronteira! Ele afirmava que "... sua difusão por uma superfície maior os faria individualmente mais felizes, e proporcionalmente facilitaria que a sua emancipação se concretizasse, dividindo o fardo sobre um número maior de coadjuvantes [ie., proprietários de escravos)". Ver PETERSON, Merril (org). The Portable Thomas Jefferson. New York: Viking Press, p. 568, 1975. Para uma descrição da vida em seu latifúndio, ver também WILSTACH, paul. Jefferson and Monticello. London: William Heinemann, 1925.