telefone foi capaz de criar uma massa crítica de usuários para seu sistema on-line pioneiro, distribuindo terminais grátis para qualquer um que quisesse esquecer as listas telefônicas em papel. Uma vez que o mercado foi criado, fornecedores comerciais e comunitários puderam encontrar consumidores ou participantes suficientes para prosperar com o sistema. Desde então, milhões de franceses de todos os estratos alegremente reservaram ingressos, bateram papo uns com os outros e organizaram-se politicamente on-line sem perceber que estavam quebrando os preceitos libertários da Ideologia Californiana[1].

Longe de demonizar o estado, a grande maioria da população francesa acredita que mais intervenção pública é necessária para uma sociedade eficiente e saudável[2]. Nas recentes eleições presidenciais, quase todo candidato teve de defender — ao menos retoricamente — maior intervenção do estado para terminar com a exclusão social dos desempregados e sem-teto. Ao contrário do equivalente americano, a revolução francesa passou ao largo do liberalismo econômico, rumo à democracia popular. Após a vitória dos Jacobinos sobre seus oponentes liberais em 1792, a república democrática da França tornou-se a materialização da “vontade da maioria”. Sendo assim, acreditava-se que o estado deveria defender os interesses de todos os cidadãos, em vez de proteger apenas os direitos dos proprietários individuais. O discurso da política francesa permite à ação coletiva do estado mitigar - ou mesmo remover —

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  1. Sobre o relatório que levou à criação da Minitel, ver NORA, Simon, MINC, Alain. The Computerisation of Society. Cambridge Massachussets: MIT Press, 1990. Um relato dos primeiros anos da Minitel pode ser encontrado em MARCHAND, Michael. The Minitel Saga: a french sucess history. Paris: Larousse, 1988.
  2. Sobre a influência do jacobinismo na concepção francesa dos direitos democráticos, ver BARBROOK, Richard. Media Freedom: the contradictions of commmmications in the age of modernity. London: Pluto, 1995. Alguns economistas franceses acreditam que uma história muito diferente da Europa criou um modelo específico — e especialmente, superior — de capitalismo. Ver ALBERT, Michael. Capitalism v. Capitalism. New York: Four Wall Eight Windows, 1993; e DELMAS, Philippe. Le Maótre des Horloges. Paris: Éditions Odile Jacob, 1991.