seus desejos egoístas. O casamento entre a teoria de Ayn e a crença no poder das máquinas produziria a ilusão de uma sociedade que prescindia, entre outras coisas, de políticos e que se autogovemava e se autorregulava com a ajuda dos computadores.

A ideologia californiana está presente hoje como base filosófica para, por exemplo, ações de vigilância em massa como as da NSA. A internet é a ferramenta de controle dos sonhos, em que tudo é registrado e deixa rastro (que alguns apagam, mas a maioria não), um cenário perfeito para que agências de vigilância, em nome da segurança, e com a ajuda dos computadores, possam vasculhar a vida de todos. A ideologia está presente também quando Mark Zuckerberg fala de uma internet onde o padrão é ser sociável — de preferência, que seja sociável numa ferramenta privada de um empresário do Vale do Silício como ele, que gaste bastante tempo nela e que produza muitos dados nesse período. E é esse pensamento moldado na ensolarada Califórnia que está por trás, mais uma vez, quando uma em- presa privada ganha tanto poder que passa a fornecer serviços como o recente caso do Internet.org e do Project Loon, iniciativas do Facebook e do Google, respectivamente, que buscam oferecer acesso à internet de forma gratuita, a partir de satélites ou balões, para lugares remotos como algumas regiões da África e Ásia. É a promessa de emancipação do ser humano a partir da tecnologia e do acesso à internet — desde que uma internet editada e controlada por grandes empresas que capitalizam com o tempo gasto das pessoas em suas plataformas e com os dados que nelas deixam.

Quando falamos, no BaixaCultura, do fim da privacidade, citamos o diálogo do livro de ficção “O Círculo”, de Dave Eggers, que também ilustra a aplicação prática — e extrema — da ideologia californiana hoje. Um mundo onde tudo deve ser compartilhado,

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