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peis, que queimou, dizem que levou muito dinheiro, e n'esta fuga são varias as vozes e os pareceres, mas quasi todos concordam que foi medo do Sancto Officio, e que a sua acceleração procedeu de aviso. O certo é que não houve d'elle noticia certa, nem a parte para onde fugiu, nem el-rei o fez seguir. (Nota marginal da mesma lettra: —O mais crivel é que o Sancto Officio o encerrou nos carceres, d'onde acabaria ou poderá ainda apparecer). A voz que se rompeu é que elle acabou a vida miseravelmente no hospital de Toledo, no mesmo dia que em Lisboa houve um furacão horroroso, que fez tão assombroso estrago no mar e na terra. Isto foi voz que nunca se averiguou com certeza, mas o homem, pela sua vida, pelas suas industrias, e pelas mais circumstancias, deu claro indicio de que nào era bom.[1]


Em vista de tão numerosos testimunhos, e particularmente dos altimos que citámos não se póde negar que a machina volante foi experimentada e chegou a elevar-se na atmosphera. Nem sirva de objecção o silencio que guardou a respeito das tentativas aeronauticas de Bartholomeu Lourenço de Gusmão auctor da Bibliotheca lusitana. Diogo Barboza Machado fazendo do seu consocio um elogio. que sem exageração diremos pomposo, calou-se, bem como outros contemporaneos, sobre o invento da navegação aerea. Mas, além de que, como observa Francisco Freire de Carvalho, este argumento é meramente negativo e por isso de pouca monta na presença de tantos outros positivos, circumstancias havia que dão razão plausivel do silencio dos escriptores.

Parecia a muita gente—que bem claro se vê nas

  1. A copia citada termina assim :
    «E estando n'estes auges, no anno de 1724, em outubro tornou a fugir d'esta cidade um dia á tarde, em companhia de um seu irmão, religioso do Carmo, que vivia em sua companhia. Dizem que levou multo dinheiro que pediu emprestado nas vesperas em que fez a sortida. Falla-se que no mesmo mez em que fugiu morreu no hospital de Toledo.»