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mente dicta, servira de mestra a natureza. Na forma de barco está imitado o corpo esguio e alongado do peixe, nos remos as barbatanas, no leme a cauda, e ainda nas velas, se merecessem credito antigos escriptores, os braços espalmados e membranosos de um animal aquatico. Querendo descobrir o segredo de se librar nos ares, o homem estudou o mechanismo das aves, como antecedentemente observara o dos peixes para abrir o caminho do oceano.

Archytas, amigo e mestre de Platão, fabricou uma pomba de madeira, que, movida por certo artificio interior, voava por algum espaço. Com automatos simillhantes distrahia Torriano a Carlos V no convento de Yuste, onde findou seus dias, trocando pela humildade da vida religiosa as grandezas do imperio e as pompas mundanas.

Sem fallar de Simão Mago, a cujo vôo, segundo contam, as orações de S. Pedro pozeram desgraçado fim, ou do imprudente que em tempo do imperador Manuel Comneno quiz voar do cimo da torre do hippodromo de Constantinopla e deu miseravelmente em terra ; não faltam outras tentativas, mais bem averiguadas, de alguns physicos ou mechanicos, que pretenderam percorrer os ares, servindo-se de apparelhos similhantes ás azas das aves.

No seculo XI Oliveiro de Malmesbury, benedictino inglez, lançou-se do alto de uma torre com azas artificiaes. Voou por algum espaço, mas afinal cahia e quebrou as pernas ; dizendo depois d'este desasıre, acrescentam alguns, que o não teria soffrido, se alem das azas, levasse uma cauda.

No seculo XIII Rogero Bacon deu n'um de seus livros a descripção de certa machina volante, que um homem poderia elevar e impellir na atmosphera, movendo umas grandes azas á maneira de remos.

João Baptista Dante fabricou em Perusia no seculo XV umas azas artificiaes, com que voou algumas vezes por cima do lago Trasimeno.