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De apparelhos similhantes se serviram com vario successo, entre outros muitos, Le Besnier, o marquez de Bacqueville, Alard e Desforges. Todos estes ensaios, porèm, mostraram que, para se mover nos ares à maneira das aves, não tem o homem força bastante nem organisação apropriada.

O padre Lana, segundo crêmos, foi quem primeiro expendeu a idêa de construir um apparellho especificamente mais leve que um egual volume de ar, e por isso capaz de se elevar na atmosphera. Todavia a sua barca volante, tal como a descreveu em 1670 no Prodromo dell'arte maestra, ninguem a chegou a construir e muito menos a experimentar. Nem uma nem outra coisa seria possivel, porque os quatro balões de cobre que a barca deveria levar vazios, se tivessem a espessura bastante para resistirem á pressão atmospherica, pezariam mais que o ar que deslocassem, e se fossem tão delgados que pesassem menos, rebentariam por effeito d'aquella pressão.

Pondo de parte por inexequivel, nunca experimentado, e incapaz de o ser, o designio do padre Lana, não consta que, antes de Bartholomeu Lourenço de Gusmão, ou depois d'elle até Montgolfier, houvesse quem pretendesse resolver o problema da navegação aerea, soccorrendo-se de apparelhos mais leves que o ar, isto é de verdadeiros aerostatos[1]

  1. Pouco tempo depois que o celebre Cavendish fez conhecidas as propriedades do hydrogenio, o doutor inglez Black avançou que um leve e tenue envoltorio, comno uma bexiga, cheio d'aquelle gaz e formando um todo mais leve que um egual volume d'ar, poderia elevar-se e sustentar-se na atmosphera. Não chegou porem a fazer as experiencias que para o demonstrar annunciara. Tentou-as mais tarde, no principio do anno de 1782 o italiano Tiberio Cavallo que havia alguns annos se dedicava em Londres com fervorosa diligencia aos estudos physicos. De suas primeiras tentativas não tirou resultado; n'umas por causa do peso dos envoltorios de que se servia, n'outras porque o hydrogenio sahia filtrado pelos poros das substancias de que os fabricava. Afinal contentou-se de lançar ao ar bolhas de sabão, que enchia de hydrogenio por meio de uma bexiga com este gaz, adaptada aos tubos com que as formava.
    A proposição aventada por Black já antecedentemente o tinha sido pelo padre Lana, e a experiencia das bolhas de sabão não differiu tanto do brinquedo infantil, usado e conhecido em toda a parte, que mereça a qualificação de tentativa aeronautica.
    Os promenores referidos veem no artigo «Aerostation» do «Dictionnaire des sciences mathematiques» de Montferrier. Não nos parece provavel que as alludidas experiencias tenham maior importancia do que se lhe attribue na obra citada: porque, se a tivessem, por força seriam mais conhecidas. Não deixaremos porem de advertir que Tiberio Cavallo publicou, alem de outros livros de physica, um intitulado «The history of aerostation» (Londres 1785 in 8.º) onde se deve achar a noticia exacta e circumstanciada de suas experiencias.