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cia da grega e hebraica.[1] Estes estudos não o inhibiram de se applicar ás sciencias physicas, que provavelmente cultivou ainda em Coimbra, pois contava apenas vinte e quatro annos quando em Lisboa fazia as suas experiencias aeronauticas, e escrevia sobre o modo de esgotar sem gente as naus que fazem agua[2].

Bartholomeu Lourenço de Gusmão exerceu com applauso o ministerio do pulpito. Dos seus sermões correm impressos tres em 1712, 1718 e 1721. Foi um dos cincoenta academicos, com que em dezembro de 1720 se constituiu, sob a protecção de D. João V, a Academia real de historia. Encarregado por esta associação de escrever as Memorias para a historia ecclesiastica do bispado do Porto, occupou-se d'este assumpto em varias conferencias, e leu o prologo da obra, com approvação geral da assemblèa, em 13 de juiho de 1721. Em duas sessões tratou por incidente do supposto concilio bracharense do anno de 411, cuja existencia refutou

  1. A respeito da prodigiosa memoria de Bartholomeu Lourenço de Gusmão escreveu o padre João Baptista de Castro o seguinte n'um opusculo inedito que intitulou «Indagações curiosas breves e scientificas sobre os inventores e origens de varias coisas.»
    «Aprendendo eu philosophia no anno de 1715 com o R. P.e Filippe Neri da congregação do Oratorio, vi fazer na casa da aula ao D.or Bartholomeu Lourenço de Gusmão, chamado o «Voador», notaveis ostentações de memoria local que pareciam exceder as forças humanas. Abria-se um livro de folha que elle nunca tinha lido ; punha-se a lêr duas ou quatro paginas uma só vez, e as tornava a repetir fielmente, e o que mais admirava, era repetil-as tambem de baixo para cima. Foi homem de grande esphera e que mereceu grandes aplausos n'esta côrte, mas malogrado.»
    Tem este opusculo a data de 1766 e faz parte do Cod. CXII/2-14 da Bibliotheca publica de Evora.
    A asserção do auctor concorda exactamente com o que a este mesmo respeito se lê em a noticia biographica do padre Gusmão citada na precedente nota, a pag. 13.
  2. «Varios modos de esgotar sem gente as naus que fazem agua, offerecido ao muito alto e poderoso rei de Portugal e dos Algarves D. João V Nosso Senhor. Pelo P. Bartholomeu Lourenço. » Lisboa 1710.