Página:Invenção dos aeróstatos reivindicada.pdf/27

—21—

centos mil réis de renda, que crio de novo em vida do supplicante sómente. Lisboa 17 d'abril de 1709. Com a rúbrica de Sua Magestade.[1]

Francisco Freire de Carvalho, com quanto escrupuloso na critica e analyse dos documentos que colligiu, não poz em duvida a authenticidade d'este despacho[2]. Não faltam, porém, razões para o reputar apocrypho. Em primeiro logar, não parece muito crivel que ao requerente se concedesse, coisa que não pedia, e se lhe desse o premio de um invento, cujo resultado era ainda a ssaz duvidoso. Em segundo logar, se Bartholomeu Lourenço de Gusmão tivesse realmente sido nomeado lente de prima da faculdade de mathematica não deixaria de o dizer Barbosa Machado que mencionou todas as honras e dignidades de um seu contemporaneo, a quem tantos encomios prodigalisou.[3] Em terceiro logar, se no despacho da petição se tivesse imposto aos que usassem da machina, sem licença do inventor, a pena de morte, excessiva para tal delicto, viria forçosamente isto mesmo declarado no alvará, (docum. inf.), em que apenas se vê consignada a pena de sequestro, requerida na petição. E' verdade que, foram pelo padre João Baptista de Castro mencionadas n'um seu diario, que se conserva na Bibliotheca de Evora, as alladidas mercês.[4] Isto

  1. A petição e este despacho publicou-os em francez David Bourgeois n'um opusculo intitulado «Recherches sur l'Art de voler, depuis la plus haute antiquité jusqu'á ce jour : pour servir de supplément á la description des experiences aérostatiques de M. Fanjas de Saint Fond.—Paris 1784.» Reproduziu Figuier estes documentos na obra já citada—«Les Merveilles de la science» a pag. 516.
  2. Memoria citada.
  3. Bibliotheca Lusitana, tom. 1.°, pag. 463 e seg.
  4. Cod. CXII/2--6 e CXII/2--44 da Bibliotheca publica de Evora. O Diario do primeiro d'estes codices chega atè ao anno de 1774; o do segundo até ao anno de 1768. Começam ambos en 1700, e em ambos se leem sem differença essencial as mesmas palavras a respeito do invento, e são as seguintes :
    «Em março (1709) inventou o padre Bartholomeu Lourenço de Gusmão um instrumento para andar pelo ar, e el-rei lhe fez mercê da primeira dignidade que vagar na collegiada de Barcellos, e de lente de prima de mathematica na Universidade de Coimbra com 600$000 réis de renda : mas nada teve effeito.»