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culo os methodos do ensino da physica em Portugal, onde preferiam o Soares e o Comptono aos bons auctores do tempo, e explicavam pelas palavras sacramentaes materia, forma e privação todos os effeitos da natureza, e preferiam admittir o horror do vacuo ao peso do ar, conhecido e demonstrado havia mais de um seculo na Italia: etc., etc.

Ninguem ignora as censuras com que fulminaram, particularmente os jesuitas, o Verdadeiro methodo de estudar, e a chuva de improperios arremessada contra o sabio escriptor que ousava reprovar de fóra do reino os systemas que havia aqui apprendido, e assim publicamente renegava. E, annos depois, ainda se repetiam censuras e ultrajes contra illustre Theodoro d'Almeida, que teve, afinal, a satisfação de vêr triumphantes as novas idèas, talvez antes pela queda da companhia de Jesus e geral reforma dos estudos, que pelo relevante merito da Recreação philosophica e das Cartas mathematicas.

Todavia em 1709, sendo absoluto em toda o reino o dominio das doutrinas d'Aristoteles, estragadas e corrompidas pelos escolasticos, não havendo ainda quem abertamente impugnasse o peripato, que assim chamavam ao systema, em 1709 Bartholomeu Lourenço de Gusmão escrevia o seu Manifesto, que, nem de longe, faz lembrar as demonstrações enredadas e nebulosas dos peripateticos. As razões que o auctor accumulou para provar a possibilidade da navegação do ar, deduziu-as da observação da natureza, que, totis viribus, aquelles repugnavam e repelliam, apezar dos uteis e numerosos descobrimentos, que n'outros paizes estava produzindo.

Analysado á luz da physica moderna, o Manifesto não é nenhuma obra prima. O auctor pretendeu explicar a acceleração da queda dos graves pela diminuição da resistencia do ar nas camadas inferiores, e allegou n'outra parte a doutrina dos quatro elementos. Mas, em attenção ao tempo, e mais particularmente ao logar em que escrevia, deu-nos um documento de capacidade e