Ao ſenhor Dom Duarte.
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Tirano Amor bradaua,
Tirano Amor, tiranas alegrias,
Tirano paſſatempo,
Ia de tuas porfias
Vingado eſtou: ja veo o doce tempo
De meu tão deſejado deſengano:
A Deos maligno Amor, cruel tirano.

Que tiue ſenão dor,pena,& tormento,
Quando andaua feruindo a teus altares,
A pos fingidas glorias embebido?
Que cantos derramei aos ſurdos ares?
Mas ay que ſe enganaua o penſamento
De ſeus prantos futuros eſquecido.
Ay quão mal entendido
Era de mi o dano, que encuberto
Aos olhos,não ſe via,
Com que outro deſconcerto
E outra pena maior a forte ordia,
Trazendome entre falſas eſperanças;
Duros cuidados,& aſperas lembranças.

Em loucuras de Amor perdendo o ſizo
Denoite repetia o nome amado
Por vnico deſcanſo a meu deſejo.
E ja quando no carro marchetado
Moſtraua a branca Aurora o alegrẽ riſo

B
Aljofar