Ao ſenhor Dom Duarte.
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Que àbrandàrão dos montes a dureza.
Ficãdo as rochas cõ me ouuir quebradas
Ay horas mal gaſtadas!
Ah jugo riguroſo,& deshumano!
Triſte cadea fera
Daquelle Deos tirano!
Onde a alma eſperando deſeſpera;
E onde (ô duro penar!) morre viuendo,
Pera que mais,& mais va padecendo.

Vòs ſempre verdes myrtos,& altas faias,
Duros pinheiros, alemos ſombrios,
Montes pyramidais, caluos rochedos:
Deſpenhados criſtais dos claros rios,
Ondas do brauo mar, amenas praias,
Que tendes por eſcudos altos penedos:
Dizeime que ſegredos
Do liſongeiro amor cantar me ouuiſtes?
Quando peſadamente
Os ecchos repetiſtes
De minha Lyra triſte,&e deſcontente,
Que quãdo ſeu queixume aos vétos daua,
O ſilencio dos boſques animaua.

Ay que magros andauão na erua verde!
Os mimoſos cabritos, & os cordeiros:
Que tambem minha pena os abrangia.

B 2
As