Pelo falar do padre superior eu bem sabia que quem prendesse a teiniaguá ficava sendo o homem mais rico do mundo; mais rico que o Papa de Roma, e o imperador Carlos Magno e o rei da Trebizonda e os Cavaleiros da Tábola... Nos livros que eu lia estes todos eram os mais ricos que conhecia.

E eu, agora!...

E não pensei mais dentro da minha cabeça, não; era uma cousa nova e esquisita: eu via, com os olhos, os pensamentos diante deles, como se fossem cousas que se pudesse tantear com as mãos...

E foram se escancarando as portas de castelos e palácios, onde eu entrava e saía, subia e descia escadarias largas, chegava ás janelas, arredava reposteiros, deitava-me em trastes que nunca tinha visto e servia-me em baielas estranhas, que eu não sabia para o que prestavam...

E foram-se estendendo e alargando campos sem fim, perdendo o verde no azul das distancias, e ainda lindando com outras estancias, que também eram minhas e todas cheias de gadaria, rebanhos e manadas...

E logo cancheava erva nos meus ervais, cerrados e altos como o mato virgem...

E atulhava de planta colhida — milho, feijão, mandioca — os meus paióis.

E detrás das minhas camas, em todos os quartos dos meus palácios, amontoava surrões de ouro em pó e pilhotes de barras de prata; dependuradas na galhação de cem cabeças de cervo, tinha bolsas de couro e de veludo atochadas de diamantes, brancos como gotas d’água filtrada em pedra, que os meus escravos — saídos mil, chegados dez —, tinham ido catar nas profundas do sertão, muito para lá duma cachoeira grande, em meia lua, chamada de Iguaçu, muito p’ra lá doutra