adeus à teiniaguá encantada, dentro do meu sofrer floreteou uma réstia de saudade do seu cativo e soberano amor...., como em rocha dura serpenteia ás vezes um fio de ouro alastrado e firme, como uma raiz que não quer morrer!...

E aquela saudade parece que saiu para fora do meu peito, subiu aos olhos feita em lágrima e ponteou para algum rumo, ao encontro doutra saudade rastreada sem engano...; parece, porque nesse momento um ventarrão estourou sobre as águas da lagoa e a terra tremeu, sacudida, tanto, de as arvores desprenderem os seus frutos, de os animais estaquearem-se, medrosos, e de os homens caírem do cóc’ras, agüentando as armas, outros, de bruços, tateando o chão...

E nas correntezas sem corpo, da ventania, redomoinhavam em chusma vozes de guaranis, esbravejando se soltasse o padecente...

Para traz do cortejo, desfiando o som entre as poeiras grossas e folhas secas levantadas, continuava o sino dobrando a finados... dobrando a finados!...

Os santos padres, pasmados mas sisudos, rezavam encomendando a minha alma; em roda, boquejando, chinas, piás, índios velhos, soldados de couraça e lança, e o alcaide, vestido de samarra amarela com dois leões vermelhos e a coroa del-rei brilhando em canutilho de ouro...

A lágrima do adeus ficou suspensa, como uma cortina que embacia o claro ver: e o palmital da lagoa, o boleado das coxilhas, o recorte da serra, tudo isto, que era grande e sozinho cada um enchia e sobrava para os olhos limpos dum homem, tudo isso eu enxergava junto, empastalhado e pouco, espelhando-se na lágrima suspensa, que se encrespava e adelgaçava, fazendo franjas entre as pestanas balançantes dos meus olhos de condenado sem perdão...