Outro mais ruído nenhum ouvia ele no ar quieto da furna que o rangido do cabrestilhos das suas esporas.

Blau Nunes foi andando.

Andando numa luz macia, que não dava sombra como os caminhos dum cupim era a furna, dando corredores sem conta, a todos os rumos; e ao desembocar do em que vinha, justo num cotovelo dele, saltaram-lhe aos quatro lados jaguares e pumas, de goela aberta e bafo quente, patas levantadas mostrando as unhas, a cola mosqueando, numa fúria...

E ele meteu o peito e passou, sentindo a cerda dura das feras roçarem-lhe o corpo; passou sem pressa nem vagar, escutando os urros que p’ra traz iam ficando e morrendo sem eco...

As mãos, de braços que ele não via, em corpos que não sentia, mas que, certo o ladeavam, as mãos iam-lhe sempre afagando os ombros, sem bem o empurrar, mas atirando-o para adiante... adiante...

A luz ia na mesma, cor da de vaga-lume, esverdeada e amarela...

Blau Nunes foi andando.

Agora era um lançante e ao fim dele parou num redondel topetado de ossamentas de criaturas. Esqueletos, de pé, encostados uns nos outros, muitos, derreados, como numa preguiça; pelo chão caídas, partes deles, despencadas; caveiras soltas, dentes branqueando, tampos de cabeças, buracos de olhos; pernas e pés em passo de dança, alcatras e costelas meneando-se num vagar compassado, outras em saracoteio...

Aí o seu braço direito quase moveu-se acima, como para fazer o sinal da cruz;... porém — alma forte, coração sereno! — meteu o peito e passou entre as ossadas, sentindo o bafio que elas soltavam das suas juntas bolorentas.

As mãos, aquelas, sempre brandas, afagavam-lhe outra vez os ombros...