Blau Nunes foi andando.

O chão ia alteando-se, numa trepada forte que ele venceu sem aumentar a respiração; e num desvão, a modo dum forno, teve de passar por uma como porta dele, e aí dentro era um jogo de línguas de fogo, vermelho e forte, como atiçado com lenha de nhanduvái; e repuxos d’água saídos das paredes batiam nele e referviam, chiando, fazendo vapor; um ventarrão rondava ali dentro, enovelando águas e fogos, que era uma temeridade cortar aquele turbilhão...

Outra vez ele meteu o peito e passou, sentindo o mormaço das labaredas.

As mãos do ar mais o palmeavam nos ombros, como querendo dizer— muito bem! —

Blau Nunes foi andando.

Já tinha perdido a conta do tempo e do rumo que trazia; sentia no silêncio como que um peso de arrobas; a claridade mortiça, porém já se lhe assentara nos olhos e tanto, que viu adiante, em sua frente e caminho um corpo enroscado, sarapintado e grosso, batendo no chão uns chocalhos, grandes como ovos de téu-téu.

Era boicininga, guarda desta passajem, que levantava a cabeça flechosa, lanceando o ar com a língua de cabelos, preta, firmando no vivente a escama dos olhos, luzindo, preto, como botões de veludo...

Das duas prezas recurvas, grandes como as aspas dum tourito de soberano, pingava uma gota escura que era a peçonha sobrante por um muito jejum de mortandade, lá fora...

A boicininga — a cascavel amaldiçoada — toda se meneava, chocalhando os guizos, como por aviso, fueirando o ar com a língua, como por prova...

Uma serenada de suor minou na testa do paisano... porém ele meteu o peito e passou, vencendo sem olhar, a boicininga altear-se e descair,