Missioneiras
 

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A mãe do ouro

 

O que é hoje serra de pedra já foi gente vivente: foi gente num tempo antigo, e por um castigo do céu, escureceu de repente e caída ficou onde estava...

Onde estavam sozinhos ficaram serros e serrotes; onde estavam apinhoscados ficou a serrania encordoada.

E os ossos aí estão acimentados, em pura pedra virados; a carne que os cobria deu terra negra; os cabelos são os matos, matos que bebem o sangue, que nos parece a nós apenas cascatinhas e vertentes; os lugares ocados que aparecem são os buracos do seu corpo, da sua boca e olhos, do seu nariz e ouvidos... As veias deram em ferro, e os nervos, como parte delicada, viraram-se ouro e são os veeiros amarelos que se entranham por aí abaixo, adentro da crosta, tal e qual os nervos estão entranhados na carnadura da gente.

Mas o que governa tudo, que não se sabe o que é, que é a Alma, que não morreu, essa é que é a Mão do Ouro, porque ela não entrou no castigo, e que defende os nervos dos castigados, os veeiros da fortuna, para que no dia do Perdão cada um ache o que seu é...

Aí está porque, quando troveja, tantos raios caem sobre sobre certos serros e tanto ventarrão esb-