agua até o seu fundo e através as muralhas e montanhas até o outro lado delas, porque tudo ficou transparente para eles.

E como a Virgem Maria não disse que subisse outra vez ao céu a ventania das asas de prata do arcanjo nem o brilho das suas armas de ouro, esse dons ficaram na terra, e em todas as sextas-feiras santas procuram os olhos das crianças recém-nascidas, que então ficam com o dom de ver no escuro e através qualquer parede de pedra, madeira, ou ferro...

Para esses, nada existe escondido ou enterrado que seus olhos não vejam, como os dos outros homens, de dia claro; e isso porque nasceram em sexta-feira santa: os Zaorís...[1]

5

O Angoéra

 

O Angoéra, enquanto foi pagão, chamava-se desse nome; era um índio grande, forçudo e valente; mas era triste, carrancudo e calado.

Quando os Padres de Jesus, entraram no sertão da serra, corridos que vinham doutro rumo, foi Angoéra, o tapejara, que conduziu sem erro a companhia; e quando os padres sentaram pouso, batizou-se.

E foi padrinho M’bororé, que era cacique e já amigo, muito, dos padres. O nome de Angoéra, pagão, ficou sendo Generoso, nome cristão.

E foi como cobra que deixa a casca...

Angoéra, que era triste, deixou a casca da tristura, e como Generoso, nome bento ficou prazenteiro.

  1. Em relação ao argumento destas lendas — 1. 4 — reportamo-nos ao raciocinado estudo do Sr. Pe. C. Teschauer sob o título — Lenda do Ouro — (Rev. do Instº. do Ceará, tom. XXV-1911).