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Ergue seu canto em límpido crystal,
Faiscante de harmonia, na penumbra
Silenciosa e palida, que veste
De comoção as arvores e o Rio,
Já tão cheio de estrelas, que é celeste!


Ó vale das Saudades, onde a terra
Idylica do Minho se transforma
No ascetismo granítico da Serra,
No elegiaco drama transmontano!
Terra natal e santa da Saudade,
Que o Tamega fecunda, abraça e beija!
E, em murmúrios de nevoa e claridade,
Lhe diz o seu amor, como em segredo...


Pureza de agua e de alma, ó claro Rio!
Espelho das florestas e das nuvens,
E das aves cantando ao desafio,
E dos astros brilhando em guerra acêsa!
Rio das brancas nevoas que a manhã
Trespassa de oiro, e a noite de mysterio!
Agua de nossas lagrimas irmã,
E, quem sabe? talvez da mesma fonte...
Fundo Rio da noite! Agua baixinha
Da madrugada! Ó Rio fabuloso,
Quando a Lua da Terra se avisinha
E se reflete, triste, no teu seio!
Rio da comoção que em ti fluctua
E que teu corpo arrasta para o mar!
Rio de Apparições, á luz da Lua!

Rio dos verdes salgueiraes, ao Sol!