Rio divino do sagrado Vale!
Ó terra da Alegria e da Tristeza!
Terra Santa! Judeia occidental
Dos Profetas da nova Profecia!
Em vós a curva cósmica do mundo
Se fecha; em vós começa e, em vós, acaba
A paisagem azul do céu profundo,
Com florestas e píncaros de nuvens...
E na margem do Rio se sentou
Marános, descançando ... E viu seu rosto
Retratado nas aguas, onde um vôo
Deixára um rasto efémero de sombra.
E, subito, ficou maravilhado
Ao vêr a sua própria Aparição!
E seus olhos fitaram os seus olhos,
Seu perfil e, talvez, seu coração...
E deante de si mesmo surprehendido,
Não sabia onde estava em mais verdade:
Se no crystal das ondas reflectido,
Se na fecunda terra marginal.
E viu assim que toda a limpidez,
Ou seja de agua clara ou de alma pura,
Em si conserva o rosto que, uma vez,
Sobre ela, com amor, se debruçou...
E Marános, sonhando, contemplava
Nas doces aguas lúcidas que passam,
A imagem dos salgueiros, que ficava...
Pois só morre quem ama e quem é amado