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Olhos olhando para dentro; olhando
A Sombra anterior, o negro Cahos,
Em harmonia e luz desabrochando...
Rudeza austera e biblica dos montes!
Sorrisos de verdura que se ocultam
Em pequeninos vales, onde as fontes
São phantasmas de nevoa, no crepusculo...


«Ó grande Serra esphingica da Noite!
Montanha da chimerica emoção,
Da palida tristeza que se espraia
Em ondas de silencio e solidão!
Montanha que o Sol veste de oiro e rosas!
Ó bemdita Montanha no esplendor
Da divina manhã que sobre ti,
Abre o seu calix de infinita flôr!


«Serra que és minha apenas, e do céu,
Amo-te, desde o instante extraordinario,
Em que teu vulto cósmico se ergueu
Ante os olhos que têm as minhas lagrimas!
Amo-te, desde o vale pequenino
Que em teus labios rochosos e profeticos,
É o tenro, verde riso cristalino
Que ás brancas ovelhinhas mata a fome,
Aos escarpados sêrros denegridos
Pelo fogo dos raios, quando o vento
Solta, no ar, seus tragicos gemidos,
E ha nuvens abrasadas de relampagos!
Amo-te, desde a neve imaculada
Que teus píncaros veste de pureza

(Branca toalha de altar na elevação