88


«Então és mais feliz, baixando os olhos,
Respondeu a Saudade; muito embora
Eu seja um sêr divino e transcendente,
Mal o riso me fala, sem demora,
A lagrima responde ... E a minha Imagem
Sente-se prêsa á terra onde nasceu,
Como um phantasma ás sombras da Paisagem!»


E Marános responde pensativo:


«Em verdade te digo que em mim próprio
Não posso ser feliz. E todavia,
Eu sinto que em meu vulto é que se forma
A perpetua e impassível Alegria!...
Eu não sou a Alegria, mas apenas
A tragica materia que a produz.
Na grande escuridão sou facho a arder,
E a que distancia estou da minha luz!
Emquanto eu ardo e sofro e me consumo,
Em que altura suprêma andarás tu,
Sem desmaios de nuvem ou de fumo,
Divina claridade do meu corpo?...
E por isso que a chama realisa,
Em sua luz, um gráu de perfeição,
Tambem eu só me elevo em minha animica,
Já liberta e perfeita Creação!
Mas no meu sêr, o Espirito ainda existe
Em pêso bruto e densa escuridade.
Sou a Tragedia viva, a Dôr que sofre
E que Deus fez da sua Eternidade!
E tu de minha fragil natureza

Participas ainda; mas tambem