89


Já és d'aquele Reino, onde a Beleza
Se torna espiritual e sobrehumana!»


E a Saudade, inclinando a branca fronte,
Melancolica ouvia, emquanto a luz,
Manando de abrazada e etérea fonte,
Seus olhos florescia e saciava.
E Marános olhando a sua face,
Vira o seu coração. E na embriaguez
De quem vê, surprehendido, o sol que nasce,
Ao abrir as janelas, de manhã:


«Tu és o amor carnal já transcendente,
Já pela aza do Espirito tocado!
Virgem que sob os pés tem a Serpente,
E sobre a fronte o resplendor do Sol!
E nos labios o beijo que se chora;
E a lagrima infinita que se beija
Nos olhos...
 Virgem mystica da Aurora,
Na Capelinha triste do Crepúsculo...
Virgem dos sitios êrmos, onde reza
O Vento, quando as árvores ajoelham.
Virgem da estrela de alva e da tristeza
Celeste e amanhecente em que ela nasce.
És a Virgem do mundo lusitano,
A Virgem dos pinhaes, á beira-mar...
És a Virgem das ondas do Oceano,
Sobre um altar de nuvens e de espumas!
És a Virgem da tarde, quando em nevoa
Sobem da terra ao ceu as claras fontes...

Virgem da Lua Nova alumiando