Costumes barbaros disseram em tempos idos ao homem :« Sê omnipotente e soberano impondo-te pela severidade e pela arrogância, pela soberbia e pelo despotismo ». E o homem, que viera das selvas e do convivio das feras, acreditou que assim como o mais feroz era o que vencia, também ele venceria pela ferocidade. E carregando o sobrôlho, descendo a viseira da brutalidade, pretendeu conquistar pela força, pela rispidez e pela supremacia do mando.
Por isso mesmo, debalde tem querido voar no espaço das glórias e dos triunfos, sepultando-se afinal em mares de sangue e ódios, de felonias e traição, vencido pelo mal que cultiva.
Mais livres e felizes do que êle, são os rouxinois gorgeando nos salgueiros balouçantes, como interpretes divinos da harmonia, como herois do espaço e da beleza que vibra em ritmos de melodia, e se esparge em trinados enebriantes de poesia e de ternura, perfumando as almas de sentimento e amor.
Falha na prática da vida, tanto social como doméstica, a imitação do homem das selvas. E triunfará na aurora das idades civilisadas, o cântico amoroso do rouxinol que ensina a brandura, o carinho, a ternura conjugal aos humanos, embalando no sonoro idílio dos ninhos o hino da bondade a desprender-se em harmonias cariciantes, emquanto a consorte vai acalentando a mimosa prole entre o ritmo dos arrulhos e a macieza tépida das plumagens.
Bemdita sejas, ó poesia dos ninhos, das brisas, dos luares e dos arroios, que ensinas à gente brutalisada