— Você tem-lhe raiva demais; realmente a função da cera na mantilha é para dar o cavaco, porém, bem diz o mestre: qual é a criança que não faz travessuras? Isto tudo há de passar com a idade.

Dirigindo-se depois ao pequeno.

— Venha cá, Sr. travesso, disse-lhe com bondade, venha defender-se do que aqui estão dizendo a seu respeito.

O menino chegou-se com um ar entre vexado e capadoçal, colocou-se em pé entre a madrinha e a vizinha.

D. Maria fez-lhe então algumas perguntas, a que ele respondeu com prontidão, porém com mau modo. A vizinha não se julgou muito em segurança com tão bom vizinho a seu lado, e foi querendo levantar-se. O menino, percebendo isto, não quis perder ocasião de fazer o que quer que fosse de maligno contra ela; estendeu a ponta do pé, e pisou-lhe com toda a força na barra da saia preta que ela conservava tendo tirado a mantilha. A vizinha, vendo-lhe o gesto, sem entender bem o que era, percebeu que ele preparava alguma, e quis levantar-se rapidamente: lá se foram alguns quatro palmos da barra da saia.

— Ah! disse o menino fingindo-se espantado...

— Valha-te, Deus, menino! disse a comadre.

A vizinha contemplava a sua saia rota, dizendo para os circunstantes:

— Então é o que eu digo, ou não? Tem maus bofes!...

O compadre sorria-se disfarçadamente vendo a vingança que o menino tomava do que a vizinha acabava de dizer.