ainda, e nada seria mais interessante do que apurar os fatos a respeito dela. O que ouvi por vezes a meu irmão Sizenando – esse tinha por Tautphoeus uma admiração entusiástica e conviveu com ele muito mais intimamente do que eu, a quem em compensação ele deu o melhor de seus últimos dias, suas derradeiras tardes – foi que, jovem, Tautphoeus, antes forçado a expatriar-se da Baviera por motivo revolucionário, acompanhara o rei Othon à Grécia, depois viera viver em Paris, nas vizinhanças do ano 30, e freqüentava a plêiade liberal do Journal des Débats até que emigrou para o Brasil.

Muito míope, usava de um vidro quadrado, que pelo hábito contínuo da leitura como que se colocava automaticamente; e ainda menos do que o monóculo, deixava ele o charuto... Sempre com um grosso volume alemão debaixo do braço, caminhava horas inteiras no mesmo andar, alheio ao mundo exterior... Era um homem que sabia tudo. Sua conversação era inesgotável, e raro ele mesmo a dirigia. O assunto lhe era indiferente, e até o fim, anos seguidos, dia após dia, nunca ele se encontrou senão com interlocutores curiosos de ouvi-lo sobre os pontos que mais lhe interessavam. Era literalmente como um dicionário que a cada instante alguém manuseasse, ou uma enciclopédia que um abrisse no artigo Babilônia, logo outros nos artigos Invasão dos Bárbaros, Adam Smith, Lutero, Hieróglifos,