convertidas em trabalho alheio. Que lhe importava isto? Ele era destituído de ambição. Esse respeitador por sistema da ordem hierárquica e da pragmática social, que nunca levou a mal que os poderes de um dia se considerassem seus superiores, que os afidalgados da véspera olhassem com desdém para o seu título hereditário, vendo-o mestre de meninos, era um sábio da Grécia, praticando com o espírito e a inteireza pagã a filosofia do Eclesiaste: Vanitas vanitatum... Desde muito cedo ele adquiriu a esse respeito a perfeita imunidade. Tendo que ganhar a vida em país estrangeiro por meio de lições, enterrou tudo que pudesse restar-lhe dos velhos preconceitos aristocráticos de seu país, das aspirações à elegância, à vida de prazer, ostentação, e sucessos mundanos da sua mocidade em Paris, entrou no papel que lhe fora distribuído com a mesma simplicidade como se o recebesse por herança... em uma palavra, sem ressentimento, sem queixa, sem murmúrio. Bebeu a água da carioca com o mesmo espírito de conformação com que teria bebido a água de Lethes... Esqueceu-se de si mesmo para entrar em seu novo destino... Mas também desde logo como ele penetrou os mais íntimos refolhos e singularidades do país que devia ser sua segunda pátria, e que ele amou como tal! Sua posição era involuntariamente considerada subalterna ainda pelos mais capazes de compreender – o que não