de Renan. Tem aí o dr. Graça Aranha a confissão da minha deficiência em relação à nossa língua, cuja fibra forte, resistente, primitivamente áspera, lastimo não possuir. Limito-me, talvez por isso mesmo, a escrever, como ele vê, com aqueles dos seus fios e dos seus matizes que se ajustam ao meu tear francês.

O momento em que me apareceu essa febre do verso francês – era em verso, ainda por cima, que eu me sentia forçado a compor –, foi caprichosamente mal escolhido, porquanto coincidiu com a minha primeira viagem à Europa. Não há dúvida também que foi um resultado dela. Da impressão d’arte, da impressão histórica, da impressão literária do Velho Mundo, jorrava em mim a fonte desconhecida das Musas, que em outros têm jorrado do amor e da mocidade. Eu trazia versos de tudo o que vira, como outros viajantes trazem pedras ou folhas de hera do Coliseu, do Fórum, de Posilipo, de Sorrento, de Pompéia, do lago de Genebra, de Versalhes. Esses versos, reuni-os em um volume – Amour et Dieu. Deus no título era tudo o que restava de um longo poema da Eternidade que eu tinha pensado em Ouchy, uma espécie de réplica teísta ao De Rerum Natura. Quando comecei a escrever esses versos, eu ignorava regras fundamentais da prosódia francesa, como a da alternação das rimas; em pouco tempo tinha-me familiarizado com os segredos dos hiatos e hemistíquios. Os