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MULHERES E CREANÇAS

intellectual que ella deve receber na infancia e na adolescencia.

Diz-me a minha amiga, que a maior parte dos romances são immoraes, que os que não são immoraes nos intuitos são perigosamente exaltados ou revellam ao espirito da mocidade quadros que ella não deve conhecer: diz-me que a historia de todos os povos não é mais que um amontoado confuso de crimes e de vicios, que a sciencia está em contradicção absoluta com as verdades de religião, e no meio das duvidas que se desnorteiam e assaltam quasi que prefere condemnar sua filha a uma ignorancia que ao menos a conserve simples de coração e tranquilla de espirito.

Tenho duas objecções a fazer-lhe minha amiga, e parece-me que ambas hão de impressionar o seu esclarecido entendimento.

Em primeiro logar, se consultar bem a sua consciencia, verá que transige por fraqueza e por preguiça com a ignorancia de sua filha.

Prefere que ella não tenha quasi nada, a ter de se entregar a trabalho difficilimo de escolher com o mais delicado dos escrupulos o que ella deve saber.

Em segundo logar, essa ignorancia, que para a mulher lhe parece o porto socegado e tranquillo onde ella repousará affoutamente, parece-me a mim um