MULHERES E CREANÇAS
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de chambre bordada, uma touca de manhã como as que desenha a phantasia pittoresca dos caixeiros da Mode Illustrée, queria uma casa de jantar elegante com mobilia en vieux chêne, aparadores carregados de finas porcellanas, um criado de casaca preta e modos de embaixador, passando discretamente, sem fazer barulho, por cima do parquet suisso, cuidadosamente encerrado.

Gostava de ter um boudoir todo de seda côr de perola onde ella podesse ler, preguiçosamente deitada no no seu pequeno fauteuil muito flascido, diante de um guéridon cheio de violetas e de gardenias, os ultimos romances, as revistas estrangeiras, as criticas musicaes dos mestres mais famosos.

Sempre tivera a esperança de fugir pelo casamento á pressão sordida da miseria paterna.

Detestava a vida que tinha levado em solteira, fazendo ella propria os vestidos para ir ao baile, cerzindo redes nas botinas de setim branco, com os dedos picados, um roupão de chita amarrotado, e o coração cheio de rancor e inveja ás que tinham o luxo e o conforto que ella não tinha.

Aquelle homem apparecera-lhe.

Era pobre, é verdade, mas disseram-lhe que tinha talento, que tinha ou que ia ter uma posição; acceitara-o por cansaço, por desalento, porque se impacientava já de esperar mais tempo.