MULHERES E CREANÇAS
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Talvez não houvesse tantos bailes e saraus, talvez Offenbach, Dumas filho, Sardou tivessem menos espectadores, talvez as salas de bilhar perdessem um pouco da sua popularidade; talvez os ourives e as modistas fechassem algumas das suas lojas, mas em compensação quebravam menos negociantes, perdiam-se menos mulheres, a calumnia renunciava a uma grande porção do seu alimento diario, o falso luxo que mata de fome os filhos e que arrasta sedas pelas ruas enlameiadas da cidade, ou se reclina voluptuosamente nos coxins flascidos d’um coupé de oito mollas, o falso luxo deixaria de ostentar com tão descarada altivez as suas lentejoulas compradas com moeda vil, e esta nossa sociedade, que parodía tão ridicula e tão desgraçadamente a sociedade cosmopolita, opulenta e artificial da França, tomava diverso rumo, assumia a dignidade que lhe falta, e descobriria no futuro o ideal, que não tem e que procura nas trevas.

O primeiro passo para que este deploravel estado de cousas melhore um pouco, é que as mulheres comecem a trabalhar.

As ricas instruam-se; as pobres ajudem seu marido sem se envergonharem da sua honesta pobreza, e todas sem exceptuar qualquer posição social, occupem o tempo para não darem logar ás tentações da vaidade, aos sonhos morbidos que enfraquecem o corpo