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MULHERES E CREANÇAS

que parece feito por uma fada muito habilidosa no seu torno de marfim.

Começa a andar, e os passos d’elle, desastrados e timidos enchem-me a alma de um susto, de uma inquietação, de uma delicia, de um não sei quê profundamente novo na minha vida e que eu não encontro palavras que exprimam bem!

Até aqui parecia-me que elle era eu, que fazia parte de mim, que nós ambos formavamos um todo.

Agora percebo e com uma surpreza que ás vezes chega a ser dolorosa! que me enganara, e que cada um d’aquelles passinhos hoje tão miudos e tão vacillantes, ámanhã apressados e firmes, o irá afastando de mim na vida, se eu o não souber seguir, fazendo-me como elle pequena, como elle infantil, penetrando intimamente na sua alma e ao mesmo tempo compenetrando-me bem de todas as doces claridades matutinas que ha dentro d’aquelle espirito que vae desabrochar.

Não comprehendes bem esta iniciação lenta, que no momento em que o corpo da mãe e o corpo do filho deixam de ser um só, faz uma só das duas almas de ambos?

Visto que elle já não póde ser eu, é preciso que eu seja elle; só assim lhe poderei ir inoculando na alma e no entendimento, tudo que no meu entendimento