MULHERES E CREANÇAS
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Pois ainda ha mais? exclamas tu assustada.

Sim, ha muito mais. Ha cousas que eu com a ajuda de Deus tenciono aproveitar e dirigir para o futuro bem d’elle.

Bébé roubou!... imagina!

No outro dia desappareceram-me de cima de uma etagére da saleta umas bugigangas de marfim que me tinham trazido de Macau; adivinha onde fui dar com ellas?

No seu quarto dos bonitos.

Não estavam escondidas, valha a verdade! estavam impudicamente espalhadas ao sol, com uma ostentação de cynismo deveras aterradora.

Não posso explicar bem o trabalho que tive para, sem polluir aquella innocencia sagrada, lhe explicar que n’este mundo ha meu e teu, e que a propriedade é um direito inviolavel.

Como não ha nada mais difficil — para não dizer impossivel — do que introduzir uma idéa abstracta na cabeça d’uma creança, não imaginas de quantos artificios e quantas manhas me valí.

Cheguei a roubar-lhe tambem eu propria, parte dos seus bonitos.

Então é que era vel-o, sem se atrever a condemnar-me, e no entanto sentindo revoltados, lá dentro da sua alminha de cinco annos, todos os instinctos de justiça